quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

ENCONTRO DAS JUVENTUDES AMAZÔNICAS REFORÇA E VISIBILIZA A AUTONOMIA E PARTICIPAÇÃO DAS JUVENTUDES

Por Alexandre Soares *


O #EncontroDasJuventudesAmazônicas realizado, no sábado, 02 de dezembro, na Escola de Teatro e Dança da UFPA, contou com a participação de várias pessoas, em sua maioria, jovens para debater assuntos relacionados ao tema do encontro "Que cidade queremos para viver e o que estamos fazendo para conquistá-la".

Tudo objetivado para fortalecer a solidariedade e os movimentos de resistência e luta pelo direito à vida e à cidade. A partir da reflexão e debate sobre a atual conjuntura brasileira e o acirramento da violência nas periferias, principalmente em relação à juventude negra, definindo estratégias de diálogo entre diferentes olhares e práticas de grupos e organizações.

Através disso, o Encontro pode reforçar e mostrar que os jovens estão cada vez mais, e são, organizados, ao contrário do que tradicionalmente dizem sobre essas pessoas. "Pessoas que não ligam pra nada a não ser para si mesmo", "apáticos”, “complexos” e etc.

O Encontro começou pela manhã com uma dinâmica de integração e logo em seguida com a mesa de abertura "Juventudes e Movimentos: Urgências e (R)existência", mediada por Marineia Ferreira, Articuladora Jovem da Agência de Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia (JCA) e com a convidada Lúcia Isabel Silva, Professora Doutora da UFPA.

 

A Professora falou sobre os elementos conjunturais que envolvem e afetam diretamente as juventudes, como a falta de emprego, a falta de educação de qualidade nas escolas e universidades, ou seja, sobre a falta de políticas públicas para as juventudes, mas ressaltou o papel dos jovens enquanto protagonistas, e destacou "A juventude tem esse multi-papel de protagonismo nos processos, de fazer pressão, de ir reclamar seus direitos. Nos quais os direitos não são dados, são conquistados, através disto, não tem luta por direitos sem direitos humanos", ressaltou Lucia.

Em seguida, ocorreu uma roda de conversa com o tema "Que cidade queremos para viver e o que estamos fazendo para conquistá-la" que é justamente o tema do encontro. A roda foi mediada por Larissa Costa, Articuladora Jovem da Agência, e com a participação dos convidados e convidadas, Rafael Carmo Coordenador da Rede Paraense de Pessoas Trans (REPPAT), Naiane Queiroz Articuladora Jovem da Agência de Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia (JCA), Darla Farias Mulher Negra e representante da Rede de Mulheres Negras, Larissa Ellen representante do Movimento República de Emaús, Everton MC do grupo de rap Tem Que Ser Sagaz (TQSS) e Raphael Castro da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (ENECOS).

Os convidados e convidadas da roda de conversa dialogaram sobre os elementos que compõem a cidade, reconhecendo-a como um espaço de disputa e afirmação das juventudes a partir da sua pluralidade de territórios.


De acordo com Rafael Carmo, as juventudes, em especial, as juventudes LGBTI sofrem com a exclusão social. "Nós temos que parar e ficar atentos para essa juventude que está aí sofrendo com a exclusão social em todos os ambientes, começando em casa quando a pessoa assumi sua identidade de gênero e a família não tem a preparação, a informação e esse ou essa jovem acaba na rua e o que resta para ela, é ser acolhida pelo tráfico e prostituição porque acha que é a única saída. A pessoa é jogada ao tráfico ou a prostituição", disse o Coordenador do REPPAT.

Outra convidada da roda, Darlah Farias falou sobre as juventudes negras, de como a pessoa negra é subjetivada e estereotipada. "O corpo negro é estereotipado a marginalização e a criminalização porque os jovens que mais morrem são os periféricos, porque temos uma estrutura social racista que é herança da escravidão do Brasil". A representante da Rede de Mulheres Negras ainda falou sobre como as pessoas negras estão lutando por mais direitos e reconhecimento. "De uns anos para cá nós temos um crescimento nas políticas públicas para que haja reparação como as cotas, fruto de nossa luta", disse Darlah.


À tarde, ocorreram às oficinas como Vídeo de Bolso, Estêncil, Photo Voice e Gênero. Para Laura Louisy, ter participado da oficina estêncil foi muito importante, pois “a oficina de estêncil propôs primeiramente uma aula teórica bem dinâmica que possibilitou um contato entre todos, debatemos questões de negritude que se interligavam com a Oficina em si e logo depois colocamos em prática o que aprendemos e fizemos tudo isso em grupo, o que incentivou a troca de ideias e a construção de novos pensamentos e opiniões. Com socialização no final do Encontro do que foi aprendido nas oficinas."


A Diretora Geral da UNIPOP, Aldalice Otterloo, reforça a importância desses espaços organizados e voltados para os jovens. “O encontro foi um dos pontos altos da programação dos 30 anos da Unipop, arregimentou um grupo muito diverso de jovens que representaram diferentes formas de organização que não são aqueles historicamente institucionalizados, são grupos de novas demandas, de novas institucionalidades, experiências, fazendo com que essa juventude pense como encarar essa realidade que estamos enfrentando em nosso país, e eles afirmando que mesmo com uma conjuntura tão adversa eles estão resistindo com ações concretas”.

O #EncontroDasJuventudesAmazônicas é uma realização do Programa: Juventude, Participação e Autonomia – JPA, por meio do Projeto Agência de Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia (JCA), desenvolvido pelo Instituto Universidade Popular (UNIPOP) com o apoio de Fundo Brasil de Direitos Humanos, Ação Mundo Solidário e Fundação Luterana Diaconia em parceira com Coletivo Tela Firme, Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (CEDENPA) e Movimento República de Emaús.

#UNIPOP30ANOS
 O Encontro é um das várias ações da UNIPOP em comemoração aos seus 30 anos, visto que desde 1998, o Instituto direciona ações específicas para o segmento juvenil, buscando através de redes e fórum assim estabelece processos que contribuam para o empoderamento cidadão desse segmento, para que possam enfrentar politicamente os problemas que as juventudes brasileiras e em especial, a paraense, vivem.

* Articulador jovem da agência de notícias e estudante de comunicação.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

QuilomBOX: uma ferramenta de combate ao genocídio da juventude negra.

Por Naiane Queiroz*


“A luta contra o Extermínio da Juventude Negra não é algo novo, a luta continua, não acaba hoje” A fala da Jurema Wernek diretora da Anistia Internacional Brasil, expressa um sentimento comum a todxs que de alguma forma se colocam na linha de frente contra os problemas causados pelo racismo na sociedade brasileira.

E nessa mesma relação de luta, de pertencimento e protagonismo das juventudes organizadas que enfrentam o Genocídio de Jovens Negrxs, que jovens ativistas de várias estados do país estiveram reunidxs de 14 a 19 de novembro, no Estado do Rio de Janeiro, para o lançamento da Coletânea QuilomBOX, que é o resultado direto da participação de jovens na campanha “Jovem Negro Vivo” da Anistia Internacional Brasil, concebida para ser uma ferramenta de apoio para a promoção de direitos, elaborada com a flexibilidade necessária para que seja utilizada como recurso principal ou auxiliar em diversos contextos educacionais e de mobilização e se soma às diferentes iniciativas já existentes de mobilização e formação em curso no Brasil.


Foram dias de trocas, de aprendizagem com x outrx que ali se encontraram, como bem afirmou Iodenis Borges de 25 anos, Mestranda em Direitos Humanos Universidade Federal de Goiás e Ativista Anistia Internacional no seu estado, onde destacou “falar em encontro é falar de aprendizado e afetos, neste evento não foi diferente, foram dias intensos de atividades com jovens de culturas e costumes diversos que me demostraram, que a união, o respeito à diferença e a formação de redes é uma de nossas potencias para fazermos a diferença onde quer que atuemos contra a violação de Direitos Humanos, saí fortalecida de esperanças, potências e afetos que sempre me acompanharam enquanto mulher negra, ativista de Direitos Humanos, que assim como outrxs jovens acreditam que com pequenas ações também podemos ser agentes transformadores de nossas realidades”, destacou.

QuilomBOX chega para ampliar o diálogo que cada coletivo já desenvolve nos seus espaços de atuação, para fortalecer ainda mais as diversas Juventudes Negras que são carregadas de resistências.


O Ativista da Anistia Internacional de Belém e integrante do Coletivo de Juventude Negra do CEDENPA e Bacharel em Direito, Alejandro Falabelo de 25 anos, ressaltou a importância de um momento como este e destacou “é importante debatermos pautas ligadas à juventude, é mais importante ainda estarmos mobilizados e propondo medidas de transformação no cenário social que vivemos” ter em mãos uma ferramenta construída através dos resultados de outras atividades, sem duvida será de grande contribuição para a luta e resultados individuais e coletivos.


Durante a programação xs jovens conseguiram construir uma agenda de atividades para realizar em seus espaços e como forma de exercício colocar em prática oficinas no espaço do Coletivo dos Enraizados em Nova Iguaçú-RJ, outro momento de incidência e utilização da ferramenta, onde se conseguiu agregar todos os valores dos coletivos.

* Jovem articuladora da Agência de Notícias.

sábado, 18 de novembro de 2017

UNIPOP realizará Encontro das Juventudes Amazônicas em celebração aos seus 30 anos

Por Alexandre Soares *

O Instituto Universidade Popular (UNIPOP) realizará no dia 02 de dezembro na Escola de Teatro e Dança da UFPA, das 8hs as 17hs, o #EncontroDasJuventudesAmazônicas para adolescentes e jovens de 15 a 29 anos, com o tema “Que cidade queremos para viver e o que estamos fazendo para conquistá-la?”, com apoio do FundoBrasil de Direitos HumanosAção Mundo Solidário e Fundação Luterana Diaconia. Um encontro voltado para jovens da Região Metropolitana de Belém para fortalecer a solidariedade e os movimentos de resistência e luta pelo direito à vida e à cidade, a partir da reflexão e debate sobre a atual conjuntura brasileira e o acirramento da violência nas periferias, principalmente em relação à juventude negra, definindo estratégias de diálogo entre diferentes olhares e práticas de grupos e organizações.

O Encontro é um das várias ações da UNIPOP em comemoração aos seus 30 anos, visto que desde 1998, o Instituto direciona ações específicas para o segmento juvenil, buscando através de redes e fóruns, assim estabelece processos que contribuam para o empoderamento cidadão desse segmento, para que possam enfrentar politicamente os problemas que as juventudes brasileiras e em especial, a paraense.

Segundo o Sistema Integrado de Segurança Pública (SISP), o Pará é um dos Estados mais violentos do país. Somente no primeiro semestre de 2017, cerca de 2 mil homicídios foram registrados. A maior parte jovem e negra, residente nas periferias da Grande Belém. E oportunizar aos/às jovens com processos formativos para uma participação cidadã, é de extrema relevância, através disto, nos quais possam aprender novas formas de sociabilidade que lhes permita vivenciar novos valores, desenvolver uma visão política e praticar ações fundamentadas na ética, no respeito e no diálogo para compreender criticamente a sociedade em que vivem e agir coletivamente para transformá-la.

Por meio disto, o #EncontroDasJuventudesAmazônicas, contará com oficinais, mesas e outras dinâmicas, além de que o evento foi planejado a todo momento por jovens da Agência de Notícia Jovens Comunicadores da Amazônia (JCA) com outras organizações que tiveram o papel de colaborar na organização geral de todo processo e durante o evento como, Coletivo Tela Firme, Centro de Defesa do Negro no Pará – CEDENPA e Movimento Republica de Emaús. Ressalte-se que já participam de algumas ações da Agência de Notícias, nas Campanhas pela Democratização da mídia e Contra o Extermínio da Juventude Negra.

Para realizar a sua inscrição clique aqui.

* Articulador jovem da agência de notícias e estudante de jornalismo.

Serviço
Encontro das Juventudes Amazônicas
Local: Escola de Teatro e Dança da UFPA (Av. Jeronimo Pimentel, enquina com Dom Romualdo de Seixas)
Horário: das 8hs as 17hs

Mais informações: 3224-9074 / 98221-8000

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Ferrovia Paraense S.A: atravessando territórios e direitos


Por Marinéia Ferreira*
Paloma Melissa **

Oficina de direitos territoriais e rádio comunitária

A mineradora Vale do Rio Doce, juntamente com o governador do estado, Simão Jatene formalizaram o processo de licitação da construção da Ferrovia Paraense S.A, em agosto deste ano sem nenhuma consulta prévia junto à sociedade civil. Além de destruir a Amazônia e dizimar as populações de comunidades tradicionais, o grande negócio favorecerá apenas empresas de fora do estado e internacionais, como a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Camargo Corrêa, Norsh Hydro, Cargil, Russian Highways, VLI Multimodal S.A, Glencore, Siemens, Ecovias, Construcap Engenharia, e lógico, a Vale. O desenvolvimento tem como meta carregar para os outros estados e países os recursos naturais de Barcarena, Marabá e Abaetetuba bem como destruir os quilombos locais sem voz nem piedade, a construção da obra vem sendo denunciada por quilombolas, indígenas, camponeses, entre outras lideranças da região.

CONTRAPONTO NECESSÁRIO
Para contrapor os objetivos do governo, a Fase Amazônia, Faor, MapSocial e Getttam da UFPA, Defensoria pública do estado do Pará e outras organizações promoveram entre os dias 18 á 27 de outubro na sala 12 do bloco KP- campus profissional da UFPA/Belém um curso de capacitação de lideranças e sujeitos políticos da sociedade civil para criarem o protocolo de consulta prévia às comunidades tradicionais sobre informações de empreendimentos e impactos ambientais de acordo com a Convenção 169 da Organização Internacional do trabalho. A ideia é contribuir na formação de representantes comunitários para atuarem como multiplicadores e fortalecedores das lutas sociais.
O desenvolvimento que dispõe sobre de norte a sul o estado do Pará irá afetar diretamente cerca de 25 mil pessoas trazendo consigo mudanças de hábitos de vidas, remoção forçada de moradores além da falta de segurança dentro das comunidades tradicionais e sem contar nos impactos ambientais alastrantes. 

VOZES DO QUILOMBO EM DEFESA DOS DIREITOS QUILOMBOLAS
Acreditando na comunicação como estratégia de emancipação e afirmação no território e diante dessa vontade e modernidade arbitrária e sobretudo danosa, onde querem atravessar os territórios e direitos sociais sem nem ouvir os moradores,  a organização Fase Amazônia através do Projeto Social ‘Fala Juventude’ e em parceria com o educador e Marquinho Mota ativista do Fórum da Amazônia Oriental- FAOR e as integrantes da Agência de Notícias Jovens Consumidores da Amazônia,  Marinéia Ferreira e Paloma Melissa, facilitaram a oficina de direitos territoriais e rádio comunitária assim também a implantação da rádio comunitária cujo nome foi dado como “Vozes do Quilombo” dentro das comunidades quilombolas Laranjituba e África, tendo o objetivo possibilitar aos moradores em relação suas pautas e também ao uso alternativo de formas para denunciar a construção da ferrovia e outros empreendimentos ilegais.

Aldebaran Moura, educadora da Fase Amazônia, durante a oficna

Infelizmente, tudo o que consumimos é fruto de mão-de-obra escravagista. O dito desenvolvimento da mineração e logística não são as soluções para diminuir os problemas sociais e ambientais, pelo contrário, só reforça ainda mais as desigualdades entre raças e classes. Por isso os quilombolas são contra a existência da ferrovia, pois segundo o jovem Ivanildo Cardoso da comunidade África “quando a ferrovia  passar, o povo vai sofrer muito porque entorno dela virá mais exploração e problemas de poluição de rios e do ar”, finaliza.

Ignorar aquilo que a população realmente necessita e luta para conseguir, é uma forma massiva e simbólica de matá-la, como afirma a moradora do quilombo Laranjituba, Regina Moraes “estamos morrendo aos poucos com essa possibilidade. É triste ver que essa modernidade vai nos oprimir mais ainda, e sem contar que os problemas de saúde vão aumentar por conta desse grande desenvolvimento.”

As comunidades tradicionais querem sim o desenvolvimento, mas não do jeito esmagador como tentam empurrar goela abaixo, um empreendimento em que visa somente o lucro dos seus pares, empobrecer os solos da Amazônia, segregar territórios e negociar direitos do povo não pode ser considerado um bom negócio, portanto, as comunidades que aqui existem e resistem vão continuar lutando e resistindo em nome do chão que pisa porque direito não pode ser moeda de troca e sim conquista.

* Articuladora jovem da agência de notícias, estudante do curso técnico em Vigilância em Saúde e integrante da Rede de Mulheres Negras.
** Articuladora jovem da agência de notícias e estudante de Serviço Social.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

TELA FIRME: É NÓS NA TELA

Grande coleta de Emaús | reprodução facebook

Por Alexandre Soares *
Paloma Melissa **

O Tela Firme é um coletivo que inicia seu trabalho no ano de 2014, com a iniciativa da necessidade que os componentes têm em mudar a forma como o lugar é visto e mencionado nos grandes veículos de comunicação de massa, que em sua maioria, através das matérias divulgadas, criminalizam o bairro e seus moradores, o que acaba criando estereótipos de um espaço violento.

Segundo a membro Tela Firme, Ingrid Louzeiro, a princípio era um canal comunitário na internet que passava informação para visibilizar o bairro da terra firme “Nosso primeiro objetivo foi transformar aquele pensamento que ‘só mora bandido, ladrão e tal’. Daí resolvemos mostrar que a situação não é assim, que na terra firme existem várias pessoas trabalhadoras, estudantes e muita cultura, ou seja, desmitificar esse pensamento. E transformamos um projeto audiovisual em um coletivo de mídia”, conta Ingrid.

Por meio de produção audiovisual, o coletivo Tela Firme veicula seu material através das redes sociais (YouTube e Facebook), com o intuito de mostrar o que há de bom, os valores da periferia e está em sintonia com os diversos movimentos sociais que atuam na defesa da vida e dos direitos humanos. 
reprodução facebook

Outra ação são as parcerias que o coletivo tem com os movimentos sociais, como a UNIPOP (Instituto Universidade Popular), a Escola de Conselhos da Universidade Federal do Pará, UNICEF e articulações com várias instituições do bairro da Terra Firme.


Com essas parcerias o Tela Firme consegue apoio para suas produções, como resultado prático a produção do vídeo sobre o Grito dos Excluídos em 2014, a cobertura do ato público contra o tráfico humano organizado pela Comissão Justiça e Paz da CNBB Norte 2 em julho de 2014, e um mini documentário intitulado “Poderia Ter Sido Você”, que abordou o extermínio de jovens retratando quatro chacinas ocorridas entre os anos 1994 e 2014 na região metropolitana de Belém. 

De acordo com Francisco Batista, membro e fundador do Tela Firme, o vídeo “Poderia Ter Sido Você” foi o posicionamento do jovens do coletivo contra as ocorrentes chacinas cometidas. “Pensamos nesse material, no vídeo, justamente para nos posicionar com relação à chacina de 2014. Fizemos o vídeo e resolvemos não expor as pessoas, familiares das vítimas, mas sim, nos colocar na condição de vítima e pegamos desde a chacina do Tapanã até a de 2014”, relata Francisco.

reprodução facebook

Em 2015 o Tela Firme ganhou a comenda “Paulo Frota” de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará pela atuação na defesa dos direitos humanos em especial com a produção do mini documentário “Poderia Ter Sido Você”.

* Articulador jovem da agência de notícias e estudante de jornalismo.
** Articuladora jovem da agência de notícias, estudante de Serviço Social e voluntária do Movimento Republica de Emaús.


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Sobre vidas negras, por Maynara Santana

Durante a audiência publica realizada na Terra Firme na noite do dia 19 de setembro, a jovem ativista negra Maynara Santana, estudante de nutrição e integrante do Coletivo de Juventude Negra do Cedenpa, fez a leitura de uma carta em que nela a jovem fala sobre o sentido de sua existência enquanto mulher negra, uma carta carregada de afeto e respeito por seus pares, jovens negros/as da periferia que existem e resistem diariamente.

Confira!

Foto: Paloma Melissa

Hoje pela manhã pensei no assunto que passeia sobre a minha existência: Extermínio da Juventude Negra. Estávamos eu e meu companheiro, falando sobre como a insegurança te priva de viver, conversávamos sobre o momento de agora, esta noite. Sobre a minha vivência enquanto mulher preta, vinte e cinco anos, com um pé para fora da universidade, dona do próprio negócio, cercada de privilégios, mas que também cresceu em uma periferia da cidade, e sabe qual é o papo desse lugar! E SABE! SABE ESTRUTURALMENTE FALANDO! Consegue se ler dentro dessa hierarquia de poder onde o Estado mata preto todo dia! Onde vidas negras são números, dígitos, alguns poucos deles, me refiro a valor. Mas o que é mesmo valor? Valor, dentro dessa sociedade capitalista é algo que eu quantifico! A Deusa Elza (Soares) é muito pontual quando canta: A carne mais barata do mercado é a carne negra! Enquanto escrevo isso sinto meus dedos pesarem de maneira que somente este tema faz pesar. Ouço meninos pretos conversando em minha cozinha. Um é bicha preta, afeminado, ousado! O Richard é um alvo gigante certeiro para essa sociedade que odeia e tem como doente uma pessoa que aceita amar quem Ela quiser. Que odeia, mais ainda, “bicha preta”, afeminada, e que sabe exatamente o valor que tem mesmo a sociedade lhe ridicularizando e silenciando suas vivências todos os dias.
O outro é um menino lindo, morador do Guamá. E quando eu falo da beleza do Black eu me permito falar sobre estética preta! O quanto é resistência, o quanto é demarcadora e representativa! é como se nós conseguíssemos ver a possibilidade do nosso sucesso no outro. Entendeu como é  importante ressaltarmos a beleza, não tão somente a beleza mas as qualidades dos nossos pares? Como é importante sentir-se pleno em uma sociedade que todos os dias nos diz que não existe beleza, criatividade, inteligência, engenhosidade em absolutamente nada que o povo escravizado da África trouxe para esse continente.
Imagina, se nós soubéssemos dos reinos, palácios, tecnologias, culturas e línguas criadas por africanos! Imagina se nós soubéssemos que África é um continente!? Rico em tudo! Estou falando de absolutamente tudo mesmo! África, berço do mundo! Continente que o homem branco europeu, na sua corrida para dominar o mundo, espoliou, traficou, desumanizou e transformou em mão de obra escrava num país do outro lado do mundo.
Imagina só, você do outro lado do mundo, objeto de homens soberbos que se acham (até hoje) donos do mundo inteiro, que não se importam em construir suas riquezas tendo como solo milhares de corpos e rios de sangue de homens, mulheres e crianças que durante séculos sofreram uma das piores  violações já submetidas à humanidade: A escravidão humana dos africanos!
O genocídio do jovem negro passa a ter um peso ainda maior quando visto do espectro da história não é mesmo? Soa como algo planejado, arquitetado, caso pronto, feito, crime perfeito orquestrado pelo maestro mais cruel de todos os tempos: O RACISMO!


Maynara Santana

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Movimento República do Emaús: por uma solidariedade que transforma

Por Alexandre Soares *
Josafá Junior **
Larissa Costa ***

Foto: divulgação facebook.

Em 1970, um grupo de jovens da periferia de Belém encontrou algumas crianças nas ruas da cidade, em situação de risco, e resolveram ajudá-los. Criaram o Restaurante do Pequeno Vendedor. Aos poucos jovens e meninos, além da comida, partilhavam experiências, desenvolviam ideias e realizavam sugestões, transformando o Restaurante numa autentica República, a República do Pequeno Vendedor.

E em 1980 a republica transforma-se em uma organização não governamental sem fins lucrativos, nascia o Movimento República de Emaús, atuando diretamente com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade da periferia de Belém, que tem como objetivo garantir os direitos destes sujeitos em situação de risco, pessoal e social.

Remando contra maré o Movimento tenta mudar o futuro de várias crianças, adolescentes, jovens e suas famílias, por meio de diversas atividades, como: dança, teatro, percussão, cursos profissionalizantes e etc. O adolescente Felipe Monteiro, 14, morador do Benguí que faz parte do Movimento e já participou de várias oficinas como flauta, capoeira e violão/percussão, é um dos que já tiveram a vida transformada pelo o Emaús. E o Movimento ainda está sendo de grande importância na sua vida e destaca. “O Emaús ensina muitas coisas, é como se fosse uma segunda casa para mim. A importância dele é que ajuda as pessoas. Se a pessoa estiver em situação de risco e ela procura o Emaús e vai ter uma grande ajuda”.

Foto: divulgação facebook.

Além do mais, Felipe conta que conheceu a República através dos pais que já foram voluntários. “O Movimento República do Emaús eu conheci através do meu pai e minha mãe. Eles foram voluntários e por isso eu fui aprendendo e conhecendo coisas novas. E foi desse jeito que eu conheci o Emaús, por meio da comunicação dos meus pais”, relata o jovem.

O Movimento conta com vários projetos, como o “Educando Pela Arte”, que tem como princípio a arte para resgatar crianças e adolescentes em situação de riscos. O “Música e Cidadania” é uma parceria entre a organização e a Fundação Carlos Gomes e são desenvolvidas atividades de musicalização, com aprendizagem de violino, viola, violão e teclado. E também, conta com a colaboração da Escola de Teatro da UFPA. Mas o projeto que tem mais visibilidade é a “Grande Coleta do Emaús”.

Grande Coleta do Emaús
Realizada no ultimo domingo (24), a Grande Coleta do Emaús, como é conhecida, é um projeto da organização que foi iniciado em 1972, e ocorre anualmente, sempre no último domingo do mês de setembro, com uma estimativa de 800 voluntários, em sua maioria jovens, percorram com caminhões cedidos por empresas locais, as ruas de Belém recolhendo objetos disponibilizados pela população.

Foto: divulgação facebook.

Segundo informações do site da instituição, em 12 de maio de 1972, era dia das mães, e a cidade inteira acordava com milhares de jovens, em mais de 100 caminhões, batendo de porta em porta, trazendo a seguinte mensagem. “Não queremos dinheiro, apenas os objetos que vocês não usam mais que podem servir para ajudar os meninos da República!”. A Campanha do Emaús estava nas ruas e a comunidade foi descobrindo na rua, com o gesto da partilha, a importância de uma “solidariedade que transforma mentes, corações e vidas!”.

De acordo com o Movimento “A Grande Coleta é também uma oportunidade da população tomar consciência dos graves problemas que atingem crianças, adolescentes, jovens e suas famílias. Anualmente é distribuída uma carta aberta com motivações e sugestões para participação”.

É através dessa coleta e de outras formas de sustentabilidade que o movimento se mantem, mas sua maior fonte de renda é da coleta, e mesmo assim não é o suficiente, recebem doações em dinheiro de pessoas que apostam nesse trabalho, pessoas que acreditam que vidas podem ser transformada com pequenos gestos. Os matérias são vendidos para a comunidade local e assim todos são beneficiados principalmente as crianças. “Queremos garantir que os jovens continuem no nosso espaço, e a coleta nos dá essa esperança de continuar com esse grande projeto que e a missão do movimento defender os direitos de crianças e adolescentes”, afirma Dina Lúcia dos Santos, educadora do movimento.

A educadora também comenta que o Emaús ajuda de várias formas pessoas que precisam, elas fazem compras para uso próprio e até para revender, usam como forma de sobrevivência, uma freguesa disse “que o Émaus é seu porto seguro, e comprando aqui por um preço barato que ela consegue revender e tirar o sustendo da sua família”.

* Articulador jovem da agência de notícias e estudante de jornalismo.
** Articulador jovem da agência de notícias e estudante do ensino médio.
*** Articuladora jovem da agência de notícias, estudante de História e voluntária do Movimento Republica de Emaús.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Ausência de políticas públicas: um gatilho para o extermínio da vida negra

Por Marineia Ferreira*
Alexandre Soares (colaboração) **
Fotos: Paloma Melissa ***


Segundo o Atlas da Violência de 2017, o Brasil registrou, em 2015, 59.080 homicídios. Isso significa 28,9 mortes a cada 100 mil habitantes, mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. Apenas em 2015, foram 31.264 homicídios de pessoas com idade entre 15 e 29 anos, uma redução de 3,3% na taxa em relação a 2014. Os homens jovens continuam sendo as principais vítimas: mais de 92% dos homicídios acometem essa parcela da população.

Estes dados apontam que a criminalidade ainda é o principal o fruto do descaso do poder público. Em Belém, somente este ano foram registradas oficialmente cerca de quatro chacinas nas quais vitimaram aproximadamente 47 pessoas e em sua maioria, negras. Diante dessa realidade, o Instituto Universidade Popular, por meio da Agência de Notícias Jovens Comunicadorxs da Amazônia em parceria com o Coletivo Tela Firme, Coletivo de Juventude Negra do Cedenpa, Fase Amazônia, Fundo Brasil de Direitos Humanos, Projeto Conexão de Saberes, entre outros, realizaram na ultima terça (19) na Paróquia São Domingos de Gusmão na Terra Firme, uma audiência pública para debater com a comunidade, sociedade civil e representantes do poder publico o Extermínio da Juventude Negra.

Anna Claudia Lins Oliveira 
Ouvidora do Sistema de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Pará

A audiência teve como objetivo provocar e alertar a sociedade civil e chamar a atenção do poder público para ás diversas formas de violência contra a juventude negra. O evento contou com a presença de moradores, lideranças populares, organizações do bairro e de outros, Comissão de Direitos Humanos e Igualdade Racial da OAB/Pa, Secretaria de Segurança Pública, Propaz Juventude, Unidade Integrada ProPaz, Frente Parlamentar de Juventude e Comissão de Direitos Humanos da  Assembléia Legislativa do Pará.

A programação iniciou com apresentação do vídeo “PODERIA TER SIDO VOCÊ!” produzido pelo Coletivo Tela Firme, trata-se de uma encenação que relembra quatro chacinas em Belém. Em seguida a jovem ativista negra Maynara Santana, estudante de nutrição e integrante do Coletivo de Juventude Negra do Cedenpa fez a leitura de uma carta-protesto, em que destacou “O genocídio do jovem negro passa a ter um peso ainda maior quando visto do espectro da história não é mesmo? Soa como algo planejado, arquitetado, caso pronto, feito, crime perfeito orquestrado pelo maestro mais cruel de todos os tempos: O RACISMO!”.

Maynara Santana - Cedenpa

Segundo Diego Teófilo, educador da Unipop, relata que desde quando se iniciou o processo de construção da mesma a proposta era romper com a formalidade das audiências quando são realizadas no espaço do parlamento e destacou “criar as condições e o espaço para que os presentes pudessem falar, era nosso principal objetivo, para aqueles que tem o papel no monitoramento e criação de políticas, neste caso o parlamento e poder executivo, e assim apresentar suas demandas”.

Entre os blocos da audiência foram realizadas diversas intervenções culturais de jovens da comunidade e de outras, entre eles Andrei Ribeiro, estudante de Serviço Social da UFPA, Demo Drew, 2KP, Street e DomMc. Durante as falas houve relatos e propostas de encaminhamento de moradores da comunidade, movimentos organizados e do poder público, entre eles: Formação de um grupo de trabalho para discutir e monitorar as recomendações apontadas pela CPI das Milícias em 2014; Desarquivamento dos processos da chacina de 2014, que envolvem policiais militares; e Criação de um grupo de dialogo da Terra Firme para discutir a reativação da antiga delegacia para transforma-la em um espaço de cultura para o bairro.

Intervenção cultural

Para Paloma Melissa, integrante da agência de notícias a audiência pública é uma forma de participação e de controle popular da Administração Pública no Estado Social e Democrático de Direito, que destacou “o bairro da Terra Firme, vítima de um processo de discriminação, marginalização e como se já não bastasse, de chacinas. A comunidade pôde participar da Audiência Pública feita por jovens da periferia conhecedores e vítimas de um sistema discriminatório, vozes foram ouvidas por parte dxs Representantes do Poder público à espera de uma resposta, proposta e ação na mudança do nosso quadro social que cada vez mais fica sangrento,  tornando jovens em especial a juventude negra vítimas de um apartheid social”.

Enquanto movimento social estamos vigilantes para que o direito humano aos jovens negros seja garantido e visibilizado por meio do nosso trabalho que é o de comunicar, contribuir no empoderamento e promover a autonomia, visto que a juventude precisa necessita ser protagonista de sua história e para isso, portanto, ela precisa estar viva e livre de qualquer resquício do racismo.

Sobre a Agência de Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia
Agência de Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia, é projeto realizado pelo InstitutoUniversidade Popular – UNIPOP, em parceria com o Fundo Brasil de DireitosHumanos, e parceira local com o Coletivo Tela Firme, Rede de Jovens Mais Pará e Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará – CEDENPA.
A Agência tem por objetivo a constituição de um espaço de mobilização contra extermínio de jovens negros e de visibilidade de práticas positivas desenvolvidas por coletivos, grupos, organizações sociais, entre outros nas periferias de Belém.

* Articuladora jovem da agência de notícias, estudante do curso técnico em Vigilância em Saúde e integrante da Rede de Mulheres Negras.
** Articulador jovem da agência de notícias e estudante de jornalismo.
*** Articuladora jovem da agência de notícias, estudante de Serviço Social e voluntária do Movimento Republica de Emaús.