Por Marineia
Ferreira*
Alexandre Soares
(colaboração) **
Fotos: Paloma Melissa ***
Segundo o Atlas da
Violência de 2017, o Brasil registrou, em 2015, 59.080 homicídios. Isso
significa 28,9 mortes a cada 100 mil habitantes, mais de 318 mil jovens foram
assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. Apenas em 2015, foram 31.264
homicídios de pessoas com idade entre 15 e 29 anos, uma redução de 3,3% na taxa
em relação a 2014. Os homens jovens continuam sendo as principais vítimas: mais
de 92% dos homicídios acometem essa parcela da população.
Estes dados apontam que
a criminalidade ainda é o principal o fruto do descaso do poder público. Em Belém,
somente este ano foram registradas oficialmente cerca de quatro chacinas nas
quais vitimaram aproximadamente 47 pessoas e em sua maioria, negras. Diante
dessa realidade, o Instituto Universidade Popular, por meio da Agência de
Notícias Jovens Comunicadorxs da Amazônia em parceria com o Coletivo Tela
Firme, Coletivo de Juventude Negra do Cedenpa, Fase Amazônia, Fundo Brasil de
Direitos Humanos, Projeto Conexão de Saberes, entre outros, realizaram na ultima
terça (19) na Paróquia São Domingos de Gusmão na Terra Firme, uma audiência
pública para debater com a comunidade, sociedade civil e representantes do
poder publico o Extermínio da Juventude Negra.
Anna Claudia Lins Oliveira
Ouvidora do Sistema de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Pará
A audiência teve como
objetivo provocar e alertar a sociedade civil e chamar a atenção do poder
público para ás diversas formas de violência contra a juventude negra. O evento
contou com a presença de moradores, lideranças populares, organizações do
bairro e de outros, Comissão de Direitos Humanos e Igualdade Racial da OAB/Pa, Secretaria
de Segurança Pública, Propaz Juventude, Unidade Integrada ProPaz, Frente
Parlamentar de Juventude e Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Pará.
A programação iniciou
com apresentação do vídeo “PODERIA
TER SIDO VOCÊ!” produzido pelo Coletivo Tela Firme,
trata-se de uma encenação que relembra quatro chacinas em Belém. Em seguida a
jovem ativista negra Maynara Santana, estudante de nutrição e integrante do
Coletivo de Juventude Negra do Cedenpa fez a leitura de uma carta-protesto, em
que destacou “O genocídio do jovem negro passa a ter um peso ainda maior quando
visto do espectro da história não é mesmo? Soa como algo planejado,
arquitetado, caso pronto, feito, crime perfeito orquestrado pelo maestro mais
cruel de todos os tempos: O RACISMO!”.
Maynara Santana - Cedenpa
Segundo Diego Teófilo,
educador da Unipop, relata que desde quando se iniciou o processo de construção
da mesma a proposta era romper com a formalidade das audiências quando são
realizadas no espaço do parlamento e destacou “criar as condições e o espaço
para que os presentes pudessem falar, era nosso principal objetivo, para
aqueles que tem o papel no monitoramento e criação de políticas, neste caso o
parlamento e poder executivo, e assim apresentar suas demandas”.
Entre os blocos da
audiência foram realizadas diversas intervenções culturais de jovens da
comunidade e de outras, entre eles Andrei Ribeiro, estudante de Serviço Social
da UFPA, Demo Drew, 2KP, Street e DomMc. Durante as falas houve relatos e
propostas de encaminhamento de moradores da comunidade, movimentos organizados
e do poder público, entre eles: Formação de um grupo de trabalho para discutir
e monitorar as recomendações apontadas pela CPI das Milícias em 2014; Desarquivamento
dos processos da chacina de 2014, que envolvem policiais militares; e Criação
de um grupo de dialogo da Terra Firme para discutir a reativação da antiga
delegacia para transforma-la em um espaço de cultura para o bairro.
Intervenção cultural
Para Paloma Melissa, integrante
da agência de notícias a audiência pública é uma forma de participação e de
controle popular da Administração Pública no Estado Social e Democrático de
Direito, que destacou “o bairro da Terra Firme, vítima de um processo de
discriminação, marginalização e como se já não bastasse, de chacinas. A comunidade
pôde participar da Audiência Pública feita por jovens da periferia conhecedores
e vítimas de um sistema discriminatório, vozes foram ouvidas por parte dxs
Representantes do Poder público à espera de uma resposta, proposta e ação na
mudança do nosso quadro social que cada vez mais fica sangrento, tornando jovens em especial a juventude negra
vítimas de um apartheid social”.
Enquanto movimento
social estamos vigilantes para que o direito humano aos jovens negros seja
garantido e visibilizado por meio do nosso trabalho que é o de comunicar,
contribuir no empoderamento e promover a autonomia, visto que a juventude
precisa necessita ser protagonista de sua história e para isso, portanto, ela
precisa estar viva e livre de qualquer resquício do racismo.
Sobre a Agência de
Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia
Agência de Notícias
Jovens Comunicadores da Amazônia, é projeto realizado pelo InstitutoUniversidade Popular – UNIPOP, em parceria com o Fundo Brasil de DireitosHumanos, e parceira local com o Coletivo Tela Firme, Rede de Jovens Mais Pará e
Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará – CEDENPA.
A Agência tem por
objetivo a constituição de um espaço de mobilização contra extermínio de jovens
negros e de visibilidade de práticas positivas desenvolvidas por coletivos,
grupos, organizações sociais, entre outros nas periferias de Belém.
* Articuladora
jovem da agência de notícias, estudante do curso técnico em Vigilância em Saúde
e integrante da Rede de Mulheres Negras.
** Articulador jovem
da agência de notícias e estudante de jornalismo.
*** Articuladora jovem da agência de notícias, estudante de Serviço Social e voluntária do Movimento Republica de Emaús.
*** Articuladora jovem da agência de notícias, estudante de Serviço Social e voluntária do Movimento Republica de Emaús.