terça-feira, 26 de setembro de 2017

Movimento República do Emaús: por uma solidariedade que transforma

Por Alexandre Soares *
Josafá Junior **
Larissa Costa ***

Foto: divulgação facebook.

Em 1970, um grupo de jovens da periferia de Belém encontrou algumas crianças nas ruas da cidade, em situação de risco, e resolveram ajudá-los. Criaram o Restaurante do Pequeno Vendedor. Aos poucos jovens e meninos, além da comida, partilhavam experiências, desenvolviam ideias e realizavam sugestões, transformando o Restaurante numa autentica República, a República do Pequeno Vendedor.

E em 1980 a republica transforma-se em uma organização não governamental sem fins lucrativos, nascia o Movimento República de Emaús, atuando diretamente com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade da periferia de Belém, que tem como objetivo garantir os direitos destes sujeitos em situação de risco, pessoal e social.

Remando contra maré o Movimento tenta mudar o futuro de várias crianças, adolescentes, jovens e suas famílias, por meio de diversas atividades, como: dança, teatro, percussão, cursos profissionalizantes e etc. O adolescente Felipe Monteiro, 14, morador do Benguí que faz parte do Movimento e já participou de várias oficinas como flauta, capoeira e violão/percussão, é um dos que já tiveram a vida transformada pelo o Emaús. E o Movimento ainda está sendo de grande importância na sua vida e destaca. “O Emaús ensina muitas coisas, é como se fosse uma segunda casa para mim. A importância dele é que ajuda as pessoas. Se a pessoa estiver em situação de risco e ela procura o Emaús e vai ter uma grande ajuda”.

Foto: divulgação facebook.

Além do mais, Felipe conta que conheceu a República através dos pais que já foram voluntários. “O Movimento República do Emaús eu conheci através do meu pai e minha mãe. Eles foram voluntários e por isso eu fui aprendendo e conhecendo coisas novas. E foi desse jeito que eu conheci o Emaús, por meio da comunicação dos meus pais”, relata o jovem.

O Movimento conta com vários projetos, como o “Educando Pela Arte”, que tem como princípio a arte para resgatar crianças e adolescentes em situação de riscos. O “Música e Cidadania” é uma parceria entre a organização e a Fundação Carlos Gomes e são desenvolvidas atividades de musicalização, com aprendizagem de violino, viola, violão e teclado. E também, conta com a colaboração da Escola de Teatro da UFPA. Mas o projeto que tem mais visibilidade é a “Grande Coleta do Emaús”.

Grande Coleta do Emaús
Realizada no ultimo domingo (24), a Grande Coleta do Emaús, como é conhecida, é um projeto da organização que foi iniciado em 1972, e ocorre anualmente, sempre no último domingo do mês de setembro, com uma estimativa de 800 voluntários, em sua maioria jovens, percorram com caminhões cedidos por empresas locais, as ruas de Belém recolhendo objetos disponibilizados pela população.

Foto: divulgação facebook.

Segundo informações do site da instituição, em 12 de maio de 1972, era dia das mães, e a cidade inteira acordava com milhares de jovens, em mais de 100 caminhões, batendo de porta em porta, trazendo a seguinte mensagem. “Não queremos dinheiro, apenas os objetos que vocês não usam mais que podem servir para ajudar os meninos da República!”. A Campanha do Emaús estava nas ruas e a comunidade foi descobrindo na rua, com o gesto da partilha, a importância de uma “solidariedade que transforma mentes, corações e vidas!”.

De acordo com o Movimento “A Grande Coleta é também uma oportunidade da população tomar consciência dos graves problemas que atingem crianças, adolescentes, jovens e suas famílias. Anualmente é distribuída uma carta aberta com motivações e sugestões para participação”.

É através dessa coleta e de outras formas de sustentabilidade que o movimento se mantem, mas sua maior fonte de renda é da coleta, e mesmo assim não é o suficiente, recebem doações em dinheiro de pessoas que apostam nesse trabalho, pessoas que acreditam que vidas podem ser transformada com pequenos gestos. Os matérias são vendidos para a comunidade local e assim todos são beneficiados principalmente as crianças. “Queremos garantir que os jovens continuem no nosso espaço, e a coleta nos dá essa esperança de continuar com esse grande projeto que e a missão do movimento defender os direitos de crianças e adolescentes”, afirma Dina Lúcia dos Santos, educadora do movimento.

A educadora também comenta que o Emaús ajuda de várias formas pessoas que precisam, elas fazem compras para uso próprio e até para revender, usam como forma de sobrevivência, uma freguesa disse “que o Émaus é seu porto seguro, e comprando aqui por um preço barato que ela consegue revender e tirar o sustendo da sua família”.

* Articulador jovem da agência de notícias e estudante de jornalismo.
** Articulador jovem da agência de notícias e estudante do ensino médio.
*** Articuladora jovem da agência de notícias, estudante de História e voluntária do Movimento Republica de Emaús.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Ausência de políticas públicas: um gatilho para o extermínio da vida negra

Por Marineia Ferreira*
Alexandre Soares (colaboração) **
Fotos: Paloma Melissa ***


Segundo o Atlas da Violência de 2017, o Brasil registrou, em 2015, 59.080 homicídios. Isso significa 28,9 mortes a cada 100 mil habitantes, mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. Apenas em 2015, foram 31.264 homicídios de pessoas com idade entre 15 e 29 anos, uma redução de 3,3% na taxa em relação a 2014. Os homens jovens continuam sendo as principais vítimas: mais de 92% dos homicídios acometem essa parcela da população.

Estes dados apontam que a criminalidade ainda é o principal o fruto do descaso do poder público. Em Belém, somente este ano foram registradas oficialmente cerca de quatro chacinas nas quais vitimaram aproximadamente 47 pessoas e em sua maioria, negras. Diante dessa realidade, o Instituto Universidade Popular, por meio da Agência de Notícias Jovens Comunicadorxs da Amazônia em parceria com o Coletivo Tela Firme, Coletivo de Juventude Negra do Cedenpa, Fase Amazônia, Fundo Brasil de Direitos Humanos, Projeto Conexão de Saberes, entre outros, realizaram na ultima terça (19) na Paróquia São Domingos de Gusmão na Terra Firme, uma audiência pública para debater com a comunidade, sociedade civil e representantes do poder publico o Extermínio da Juventude Negra.

Anna Claudia Lins Oliveira 
Ouvidora do Sistema de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Pará

A audiência teve como objetivo provocar e alertar a sociedade civil e chamar a atenção do poder público para ás diversas formas de violência contra a juventude negra. O evento contou com a presença de moradores, lideranças populares, organizações do bairro e de outros, Comissão de Direitos Humanos e Igualdade Racial da OAB/Pa, Secretaria de Segurança Pública, Propaz Juventude, Unidade Integrada ProPaz, Frente Parlamentar de Juventude e Comissão de Direitos Humanos da  Assembléia Legislativa do Pará.

A programação iniciou com apresentação do vídeo “PODERIA TER SIDO VOCÊ!” produzido pelo Coletivo Tela Firme, trata-se de uma encenação que relembra quatro chacinas em Belém. Em seguida a jovem ativista negra Maynara Santana, estudante de nutrição e integrante do Coletivo de Juventude Negra do Cedenpa fez a leitura de uma carta-protesto, em que destacou “O genocídio do jovem negro passa a ter um peso ainda maior quando visto do espectro da história não é mesmo? Soa como algo planejado, arquitetado, caso pronto, feito, crime perfeito orquestrado pelo maestro mais cruel de todos os tempos: O RACISMO!”.

Maynara Santana - Cedenpa

Segundo Diego Teófilo, educador da Unipop, relata que desde quando se iniciou o processo de construção da mesma a proposta era romper com a formalidade das audiências quando são realizadas no espaço do parlamento e destacou “criar as condições e o espaço para que os presentes pudessem falar, era nosso principal objetivo, para aqueles que tem o papel no monitoramento e criação de políticas, neste caso o parlamento e poder executivo, e assim apresentar suas demandas”.

Entre os blocos da audiência foram realizadas diversas intervenções culturais de jovens da comunidade e de outras, entre eles Andrei Ribeiro, estudante de Serviço Social da UFPA, Demo Drew, 2KP, Street e DomMc. Durante as falas houve relatos e propostas de encaminhamento de moradores da comunidade, movimentos organizados e do poder público, entre eles: Formação de um grupo de trabalho para discutir e monitorar as recomendações apontadas pela CPI das Milícias em 2014; Desarquivamento dos processos da chacina de 2014, que envolvem policiais militares; e Criação de um grupo de dialogo da Terra Firme para discutir a reativação da antiga delegacia para transforma-la em um espaço de cultura para o bairro.

Intervenção cultural

Para Paloma Melissa, integrante da agência de notícias a audiência pública é uma forma de participação e de controle popular da Administração Pública no Estado Social e Democrático de Direito, que destacou “o bairro da Terra Firme, vítima de um processo de discriminação, marginalização e como se já não bastasse, de chacinas. A comunidade pôde participar da Audiência Pública feita por jovens da periferia conhecedores e vítimas de um sistema discriminatório, vozes foram ouvidas por parte dxs Representantes do Poder público à espera de uma resposta, proposta e ação na mudança do nosso quadro social que cada vez mais fica sangrento,  tornando jovens em especial a juventude negra vítimas de um apartheid social”.

Enquanto movimento social estamos vigilantes para que o direito humano aos jovens negros seja garantido e visibilizado por meio do nosso trabalho que é o de comunicar, contribuir no empoderamento e promover a autonomia, visto que a juventude precisa necessita ser protagonista de sua história e para isso, portanto, ela precisa estar viva e livre de qualquer resquício do racismo.

Sobre a Agência de Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia
Agência de Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia, é projeto realizado pelo InstitutoUniversidade Popular – UNIPOP, em parceria com o Fundo Brasil de DireitosHumanos, e parceira local com o Coletivo Tela Firme, Rede de Jovens Mais Pará e Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará – CEDENPA.
A Agência tem por objetivo a constituição de um espaço de mobilização contra extermínio de jovens negros e de visibilidade de práticas positivas desenvolvidas por coletivos, grupos, organizações sociais, entre outros nas periferias de Belém.

* Articuladora jovem da agência de notícias, estudante do curso técnico em Vigilância em Saúde e integrante da Rede de Mulheres Negras.
** Articulador jovem da agência de notícias e estudante de jornalismo.
*** Articuladora jovem da agência de notícias, estudante de Serviço Social e voluntária do Movimento Republica de Emaús.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

UNIPOP e organizações parceiras realizarão Audiência Pública na Terra Firme

Por Alexandre Soares*

Foto: Juliana Aleixo

O Instituto Universidade Popular (UNIPOP), por meio da Agência de Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia (JCA), em parceria com Coletivo Tela Firme, Coletivo de Juventude Negra do CEDENPA, FASE Amazônia, Conexão de Saberes, Frente Parlamentar das Juventudes, apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos e Ação para Mundo Solidário e outras organizações, realizarão uma Audiência Pública que tratará do tema: EXTERMÍNIO DAS JUVENTUDES NEGRA, que ocorrerá no dia 19 de Setembro de 2017, às 18 horas, na quadra da Paróquia São Domingos de Gusmão, localizada na Av. Celso Malcher, com Rua São Domingos, Bairro da Terra Firme.
O objetivo da Audiência é provocar a sociedade civil e chamar a atenção do poder público sobre as formas de Extermínio da Juventudes Negras. Assim, mostrando quem são esses jovens, negros, que a todo momento são vitimados na periferia, pelo o estado, e também, dar voz a sociedade civil, sendo uma Audiência que vai na contra mão das que são realizadas no Parlamento. Conscientizando a comunidade, em especial a da Terra Firme, sobre essas ocorrentes mortes e discursos retóricos que são impostos e reproduzidos na periferia.
Nos últimos anos temos acompanhado o crescimento da violência urbana, um crescimento marcado pelo racismo e desigualdade social. Segundo o Atlas da Violência de 2017, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, elementos que corroboram com extermínio de jovens, sobretudo negros, do sexo masculino e moradores de áreas periféricas, vítimas de uma violência praticada pelo estado e poder paralelo, por meio da criminalidade e de milícias.
Além do mais, um retrato dessa violência são as chacinas que ocorrem provocadas após assassinato de policiais, elemento que também tem preocupado a sociedade civil, visto que estamos falando de vidas interrompidas. A chacina de Belém, registrada nos dias 04 e 05 de novembro de 2014, em vários bairros da cidade, entre eles a Terra Firme, na qual 11 pessoas foram executadas, expos a fragilidade do estado frente ao seu aparato de segurança e políticas públicas que enfrentem o problema da violência em nossa cidade.
É de fundamental importância garantir o direito a vida das juventudes na periferia, em especial dos jovens negros que tem sido alvo constante neste cenário de violência e morte em nosso estado. Ainda, de acordo com o Atlas da Violência de 2017, o Brasil registrou, em 2015, 59.080 homicídios. Isso significa 28,9 mortes a cada 100 mil habitantes, mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. Apenas em 2015, foram 31.264 homicídios de pessoas com idade entre 15 e 29 anos, uma redução de 3,3% na taxa em relação a 2014. Os homens jovens continuam sendo as principais vítimas: mais de 92% dos homicídios acometem essa parcela da população.
Portanto, este será um momento voltado para discutir com a sociedade e poder público um problema bastante presente e crescente em nossa capital. 

*Estudante de jornalismo, jovem articulador da Agência JCA.