Por Alexandre Soares *
O #EncontroDasJuventudesAmazônicas
realizado, no sábado, 02 de dezembro, na Escola de Teatro e Dança da
UFPA, contou com a participação de várias pessoas, em sua maioria,
jovens para debater assuntos relacionados ao tema do encontro "Que cidade
queremos para viver e o que estamos fazendo para conquistá-la".
Tudo objetivado para fortalecer a
solidariedade e os movimentos de resistência e luta pelo direito à vida e à
cidade. A partir da reflexão e debate sobre a atual conjuntura brasileira e o
acirramento da violência nas periferias, principalmente em relação à juventude
negra, definindo estratégias de diálogo entre diferentes olhares e práticas de
grupos e organizações.
Através disso, o Encontro pode
reforçar e mostrar que os jovens estão cada vez mais, e são, organizados, ao
contrário do que tradicionalmente dizem sobre essas pessoas. "Pessoas que
não ligam pra nada a não ser para si mesmo", "apáticos”, “complexos”
e etc.
O Encontro começou pela manhã com
uma dinâmica de integração e logo em seguida com a mesa de abertura
"Juventudes e Movimentos: Urgências e (R)existência", mediada por
Marineia Ferreira, Articuladora Jovem da Agência de Notícias Jovens Comunicadores
da Amazônia (JCA) e com a convidada Lúcia Isabel Silva, Professora Doutora da
UFPA.
A Professora falou sobre os
elementos conjunturais que envolvem e afetam diretamente as juventudes, como a
falta de emprego, a falta de educação de qualidade nas escolas e universidades,
ou seja, sobre a falta de políticas públicas para as juventudes, mas ressaltou
o papel dos jovens enquanto protagonistas, e destacou "A juventude tem
esse multi-papel de protagonismo nos processos, de fazer pressão, de ir reclamar
seus direitos. Nos quais os direitos não são dados, são conquistados, através
disto, não tem luta por direitos sem direitos humanos", ressaltou Lucia.
Em seguida, ocorreu uma roda
de conversa com o tema "Que cidade queremos para viver e o que estamos
fazendo para conquistá-la" que é justamente o tema do encontro. A roda foi
mediada por Larissa Costa, Articuladora Jovem da Agência, e com a participação dos convidados e
convidadas, Rafael Carmo Coordenador da Rede Paraense de Pessoas Trans
(REPPAT), Naiane Queiroz Articuladora Jovem da Agência de Notícias Jovens
Comunicadores da Amazônia (JCA), Darla Farias Mulher Negra e representante da
Rede de Mulheres Negras, Larissa Ellen representante do Movimento República de
Emaús, Everton MC do grupo de rap Tem Que Ser Sagaz (TQSS) e Raphael Castro da
Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (ENECOS).
Os convidados e convidadas da
roda de conversa dialogaram sobre os elementos que compõem a cidade, reconhecendo-a
como um espaço de disputa e afirmação das juventudes a partir da sua
pluralidade de territórios.
De acordo com Rafael Carmo, as
juventudes, em especial, as juventudes LGBTI sofrem com a exclusão social.
"Nós temos que parar e ficar atentos para essa juventude que está aí
sofrendo com a exclusão social em todos os ambientes, começando em casa quando
a pessoa assumi sua identidade de gênero e a família não tem a preparação, a
informação e esse ou essa jovem acaba na rua e o que resta para ela, é ser
acolhida pelo tráfico e prostituição porque acha que é a única saída. A pessoa
é jogada ao tráfico ou a prostituição", disse o Coordenador do REPPAT.
Outra convidada da roda, Darlah Farias falou sobre as juventudes negras, de como a pessoa negra é subjetivada e
estereotipada. "O corpo negro é estereotipado a marginalização e a
criminalização porque os jovens que mais morrem são os periféricos, porque temos
uma estrutura social racista que é herança da escravidão do Brasil". A
representante da Rede de Mulheres Negras ainda falou sobre como as pessoas
negras estão lutando por mais direitos e reconhecimento. "De uns anos para
cá nós temos um crescimento nas políticas públicas para que haja reparação como
as cotas, fruto de nossa luta", disse Darlah.
À tarde, ocorreram às oficinas
como Vídeo de Bolso, Estêncil, Photo Voice e Gênero. Para Laura Louisy, ter
participado da oficina estêncil foi muito importante, pois “a oficina de estêncil
propôs primeiramente uma aula teórica bem dinâmica que possibilitou um contato
entre todos, debatemos questões de negritude que se interligavam com a Oficina
em si e logo depois colocamos em prática o que aprendemos e fizemos tudo isso
em grupo, o que incentivou a troca de ideias e a construção de novos
pensamentos e opiniões. Com socialização no final do Encontro do que foi
aprendido nas oficinas."
A Diretora Geral da UNIPOP,
Aldalice Otterloo, reforça a importância desses espaços organizados e voltados
para os jovens. “O encontro foi um dos pontos altos da programação dos 30 anos
da Unipop, arregimentou um grupo muito diverso de jovens que representaram
diferentes formas de organização que não são aqueles historicamente
institucionalizados, são grupos de novas demandas, de novas
institucionalidades, experiências, fazendo com que essa juventude pense como encarar
essa realidade que estamos enfrentando em nosso país, e eles afirmando que
mesmo com uma conjuntura tão adversa eles estão resistindo com ações concretas”.
O
#EncontroDasJuventudesAmazônicas é uma realização do Programa:
Juventude, Participação e Autonomia – JPA, por meio do Projeto Agência de
Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia (JCA), desenvolvido pelo Instituto Universidade Popular (UNIPOP) com o apoio de Fundo Brasil de Direitos Humanos, Ação Mundo Solidário e Fundação Luterana Diaconia em parceira com
Coletivo Tela Firme, Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (CEDENPA) e
Movimento República de Emaús.
#UNIPOP30ANOS
O Encontro é um das várias ações
da UNIPOP em comemoração aos seus 30 anos, visto que desde 1998, o Instituto
direciona ações específicas para o segmento juvenil, buscando através de redes
e fórum assim estabelece processos que contribuam para o empoderamento cidadão
desse segmento, para que possam enfrentar politicamente os problemas que as
juventudes brasileiras e em especial, a paraense, vivem.
* Articulador jovem da agência de notícias e estudante de comunicação.