Por Marinéia
Ferreira*
Paloma Melissa
**
Oficina de direitos territoriais e rádio comunitária
A
mineradora Vale do Rio Doce, juntamente com o governador do estado, Simão
Jatene formalizaram o processo de licitação da construção da Ferrovia Paraense
S.A, em agosto deste ano sem nenhuma consulta prévia junto à sociedade civil. Além
de destruir a Amazônia e dizimar as populações de comunidades tradicionais, o
grande negócio favorecerá apenas empresas de fora do estado e internacionais,
como a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Camargo Corrêa, Norsh
Hydro, Cargil, Russian Highways, VLI Multimodal S.A, Glencore, Siemens, Ecovias,
Construcap Engenharia, e lógico, a Vale. O desenvolvimento tem como meta
carregar para os outros estados e países os recursos naturais de Barcarena, Marabá
e Abaetetuba bem como destruir os quilombos locais sem voz nem piedade, a
construção da obra vem sendo denunciada por quilombolas,
indígenas, camponeses, entre outras lideranças da região.
CONTRAPONTO NECESSÁRIO
Para
contrapor os objetivos do governo, a Fase Amazônia, Faor, MapSocial e Getttam
da UFPA, Defensoria pública do estado do Pará e outras organizações promoveram
entre os dias 18 á 27 de outubro na sala 12 do bloco KP- campus profissional da
UFPA/Belém um curso de capacitação de
lideranças e sujeitos políticos da sociedade civil para criarem o protocolo
de consulta prévia às comunidades tradicionais sobre informações de
empreendimentos e impactos ambientais de acordo com a Convenção 169 da
Organização Internacional do trabalho. A ideia é contribuir na formação de
representantes comunitários para atuarem como multiplicadores e fortalecedores
das lutas sociais.
O
desenvolvimento que dispõe sobre de norte a sul o estado do Pará irá afetar
diretamente cerca de 25 mil pessoas trazendo consigo mudanças de hábitos de
vidas, remoção forçada de moradores além da falta de segurança dentro das
comunidades tradicionais e sem contar nos impactos ambientais alastrantes.
VOZES DO QUILOMBO EM DEFESA DOS
DIREITOS QUILOMBOLAS
Acreditando
na comunicação como estratégia de emancipação e afirmação no território e diante
dessa vontade e modernidade arbitrária e sobretudo danosa, onde querem
atravessar os territórios e direitos sociais sem nem ouvir os moradores, a organização Fase Amazônia através do Projeto Social ‘Fala Juventude’ e em
parceria com o educador e Marquinho Mota ativista do Fórum da Amazônia Oriental- FAOR e as integrantes da Agência de Notícias Jovens Consumidores da Amazônia,
Marinéia Ferreira e Paloma Melissa, facilitaram
a oficina de direitos territoriais e rádio comunitária assim também a
implantação da rádio comunitária cujo nome foi dado como “Vozes do Quilombo” dentro das comunidades quilombolas Laranjituba
e África, tendo o objetivo possibilitar aos moradores em relação suas pautas e
também ao uso alternativo de formas para denunciar a construção da ferrovia e
outros empreendimentos ilegais.
Aldebaran Moura, educadora da Fase Amazônia, durante a oficna
Infelizmente,
tudo o que consumimos é fruto de mão-de-obra escravagista. O dito
desenvolvimento da mineração e logística não são as soluções para diminuir os
problemas sociais e ambientais, pelo contrário, só reforça ainda mais as
desigualdades entre raças e classes. Por isso os quilombolas são contra a
existência da ferrovia, pois segundo o jovem Ivanildo Cardoso da comunidade
África “quando a ferrovia passar, o povo
vai sofrer muito porque entorno dela virá mais exploração e problemas de
poluição de rios e do ar”, finaliza.
Ignorar
aquilo que a população realmente necessita e luta para conseguir, é uma forma massiva
e simbólica de matá-la, como afirma a moradora do quilombo Laranjituba, Regina
Moraes “estamos morrendo aos poucos com essa possibilidade. É triste ver que
essa modernidade vai nos oprimir mais ainda, e sem contar que os problemas de
saúde vão aumentar por conta desse grande desenvolvimento.”
As
comunidades tradicionais querem sim o desenvolvimento, mas não do jeito esmagador
como tentam empurrar goela abaixo, um empreendimento em que visa somente o lucro
dos seus pares, empobrecer os solos da Amazônia, segregar territórios e negociar
direitos do povo não pode ser considerado um bom negócio, portanto, as
comunidades que aqui existem e resistem vão continuar lutando e resistindo em
nome do chão que pisa porque direito não pode ser moeda de troca e sim
conquista.
*
Articuladora jovem da agência de notícias, estudante do curso técnico em
Vigilância em Saúde e integrante da Rede de Mulheres Negras.
**
Articuladora jovem da agência de notícias e estudante de Serviço Social.