Coletivo de Juventude Negra do CEDENPA
Por: Marinéia Ferreira*
A todo o momento um jovem é morto no país e, assim
como em outros estados, o Pará vem registrando vários tipos de violência contra
a juventude negra, que vai desde uma revista policial a homicídios. A exemplo
disso, em novembro de 2014 uma chacina ocorrida em bairros periféricos de Belém
vitimou onze jovens pobres, a maioria era negra. Completando dois anos do
ocorrido, nenhuma resposta de punição foi dada à sociedade. Até agora somente o
Relatório da CPI das Milícias, elaborado pela Assembleia Legislativa do Estado,
foi divulgado.
Corpos são encontrados em vielas, becos, ruas, em
qualquer lugar e a qualquer hora. Sabe-se, portanto, que essa juventude tem
identidade, cor e endereço: homens negros, com idade entre 12 a 29 anos e
moradores da periferia.
Hoje, os meios de comunicação tradicionais
concentram suas narrativas no sentido de criminalizar as juventudes, apesar de
a sociedade estar repleta de importantes movimentos protagonizados por jovens
ativistas. Em contrapartida, a Agência de Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia se constitui como um espaço de mobilização contra
o extermínio de jovens, além de dar visibilidade a práticas positivas,
desenvolvidas por coletivos, grupos e organizações sociais nas periferias de
Belém.
A criação de políticas públicas de redução à violência
se faz urgente e necessária para que as juventudes continuem vivas. A promoção
de inclusão social e cultural fortalece os espaços de enfrentamento e
empoderamento, além de combater o avanço da violência. O Centro de Estudos e Defesa do
Negro no Pará (CEDENPA) é um exemplo disso. Hoje, este Centro conta
com um coletivo de mais de 30 jovens negros e negras, que atuam no processo de
mobilização por direitos, reconhecimento e afirmação da identidade negra e
construção de vinculos dos/as moradores/as do bairro da Cremação, em Belém.
Em entrevista à Agência de Notícias, o jovem Michel
Rodrigues, 24, morador do bairro da Marambaia, e a jovem Angélica Albuquerque,
27, moradora das Águas Lindas, falaram sobre a construção do coletivo e o
processo de militância desenvolvido nos bairros periféricos de Belém. “O coletivo começou com três pessoas,
na busca de organizar a juventude negra na luta dos nossos direitos e combater
o genocídio dela. O empoderamento é a sobrevivência. Vamos entrar nas suas
quebradas, no seu rádio, na sua tv, no seu celular, ‘nas suas passarelas’. Hoje
o coletivo está com mais de 30 pretas e pretos que trabalham diariamente na troca
de vivencias que é super importante”, destaca Michel.
Jovens de diversas áreas de atuação compõem o
coletivo, entre eles há comunicadores, administradores, educadores populares,
produtores culturais. Para a museóloga Angélica Albuquerque, algumas problemáticas
que a juventude negra vivencia e a importância de existir políticas públicas
dentro das periferias deve ser debatida. Considerando que Estado deve defender
o direito de todas e todos, segundo ela, esta não é uma realidade para quem é
negro. “Meninas são levadas pela
prostituição desde muito cedo e meninos ao crime. E quando não são levados, são
taxados, porque o próprio Estado não acredita que nossos jovens negros possam
mais que isso. Só depois que ele começar a nos enxergar como pessoas e parar de
criminalizar a juventude negra, é que a sociedade vai poder debruçar ao seu
papel, que é o de respeitar a todos independente de cor da pele e nível social”,
argumenta.
No sentido de contribuir para mudança destas
realidades, o coletivo desenvolve uma ação intitulada ‘Afrogincana’, com atividades
de recreação e concentração com crianças e adolescentes, residentes do bairro
da Cremação, realizada no próprio espaço do CEDENPA. De acordo com Michel
Rodrigues, as atividades do coletivo buscam fazer com que a juventude dialogue
com a comunidade e com o local de moradia. “Trabalhando diretamente com as
crianças promovemos, também, o curso de tranças e cabeleireira. Em geral, temos
cursos na área de música, contação de histórias, batuque, promovemos rodas de
conversa com as mães da comunidade”, conclui.
*Articuladora Jovem da Agência de Notícias e integrante da Rede de Mulheres Negras.
*Articuladora Jovem da Agência de Notícias e integrante da Rede de Mulheres Negras.