quarta-feira, 16 de novembro de 2016

É UMA QUESTÃO DE COR



 Coletivo de Juventude Negra do CEDENPA

Por: Marinéia Ferreira*

    A todo o momento um jovem é morto no país e, assim como em outros estados, o Pará vem registrando vários tipos de violência contra a juventude negra, que vai desde uma revista policial a homicídios. A exemplo disso, em novembro de 2014 uma chacina ocorrida em bairros periféricos de Belém vitimou onze jovens pobres, a maioria era negra. Completando dois anos do ocorrido, nenhuma resposta de punição foi dada à sociedade. Até agora somente o Relatório da CPI das Milícias, elaborado pela Assembleia Legislativa do Estado, foi divulgado.
    Corpos são encontrados em vielas, becos, ruas, em qualquer lugar e a qualquer hora. Sabe-se, portanto, que essa juventude tem identidade, cor e endereço: homens negros, com idade entre 12 a 29 anos e moradores da periferia.
    Hoje, os meios de comunicação tradicionais concentram suas narrativas no sentido de criminalizar as juventudes, apesar de a sociedade estar repleta de importantes movimentos protagonizados por jovens ativistas. Em contrapartida, a Agência de Notícias Jovens Comunicadores da Amazônia se constitui como um espaço de mobilização contra o extermínio de jovens, além de dar visibilidade a práticas positivas, desenvolvidas por coletivos, grupos e organizações sociais nas periferias de Belém.
    A criação de políticas públicas de redução à violência se faz urgente e necessária para que as juventudes continuem vivas. A promoção de inclusão social e cultural fortalece os espaços de enfrentamento e empoderamento, além de combater o avanço da violência. O Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (CEDENPA) é um exemplo disso. Hoje, este Centro conta com um coletivo de mais de 30 jovens negros e negras, que atuam no processo de mobilização por direitos, reconhecimento e afirmação da identidade negra e construção de vinculos dos/as moradores/as do bairro da Cremação, em Belém.
    Em entrevista à Agência de Notícias, o jovem Michel Rodrigues, 24, morador do bairro da Marambaia, e a jovem Angélica Albuquerque, 27, moradora das Águas Lindas, falaram sobre a construção do coletivo e o processo de militância desenvolvido nos bairros periféricos de Belém. “O coletivo começou com três pessoas, na busca de organizar a juventude negra na luta dos nossos direitos e combater o genocídio dela. O empoderamento é a sobrevivência. Vamos entrar nas suas quebradas, no seu rádio, na sua tv, no seu celular, ‘nas suas passarelas’. Hoje o coletivo está com mais de 30 pretas e pretos que trabalham diariamente na troca de vivencias que é super importante”, destaca Michel.
    Jovens de diversas áreas de atuação compõem o coletivo, entre eles há comunicadores, administradores, educadores populares, produtores culturais. Para a museóloga Angélica Albuquerque, algumas problemáticas que a juventude negra vivencia e a importância de existir políticas públicas dentro das periferias deve ser debatida. Considerando que Estado deve defender o direito de todas e todos, segundo ela, esta não é uma realidade para quem é negro.  “Meninas são levadas pela prostituição desde muito cedo e meninos ao crime. E quando não são levados, são taxados, porque o próprio Estado não acredita que nossos jovens negros possam mais que isso. Só depois que ele começar a nos enxergar como pessoas e parar de criminalizar a juventude negra, é que a sociedade vai poder debruçar ao seu papel, que é o de respeitar a todos independente de cor da pele e nível social”, argumenta.
    No sentido de contribuir para mudança destas realidades, o coletivo desenvolve uma ação intitulada ‘Afrogincana’, com atividades de recreação e concentração com crianças e adolescentes, residentes do bairro da Cremação, realizada no próprio espaço do CEDENPA. De acordo com Michel Rodrigues, as atividades do coletivo buscam fazer com que a juventude dialogue com a comunidade e com o local de moradia. “Trabalhando diretamente com as crianças promovemos, também, o curso de tranças e cabeleireira. Em geral, temos cursos na área de música, contação de histórias, batuque, promovemos rodas de conversa com as mães da comunidade”, conclui. 

*Articuladora Jovem da Agência de Notícias e integrante da Rede de Mulheres Negras.